top of page
Foto do escritorRafaela Maximo

A culpa é sempre dos nossos pais?


Note: esse texto talvez seja difícil de ser lido. Respire fundo. Se sinta abraçado. E busque ajuda caso esteja precisando.



Quando somos bebês, temos os pais (ou "cuidadores" que acabam por fazer uma função parental) como nossa primeira e principal referência de como existir no mundo. Uma referência importante sobre como nos relacionar com ele e com as pessoas.


Conforme crescemos, no entanto, outras coisas afetam essa perspectiva.


Com mais conhecimento sobre outras relações, nos colocando em dinâmica com outras pessoas, tanto através da observação quanto através da troca, em meio a nossa busca pela nossa identidade... passamos a perceber nossos pais como pessoas como qualquer outra— com fragilidades e falhas, e suas próprias questões para resolver.


E isso pode ser um choque de realidade.


Um choque que faz parte do nosso processo de amadurecimento e de entrada no mundo adulto — ninguém disse que seria fácil, né? Mas o seu eu-criança que muitas vezes queria "crescer logo" provavelmente não esperava por essa.


Podemos começar a observar que essa falhas parentais refletiram de alguma forma na nossa criação, no nosso funcionamento. Diante disso, podem surgir sentimento de raiva, de injustiça, de frustração, a depender da sua habilidade de lidar com mudanças, sua resiliência diante de situações difíceis, seu temperamento, sua história de vida.


Principalmente quando esses "cuidadores" tinham uma postura agressiva, seja psicológica ou fisicamente, que possuíam uma auto-regulação emocional frágil, ou eram extremamente negligentes (e sinceramente, eu desejo que você consiga acolher essa dor caso tenha passado por isso. E que tenha a possibilidade de procurar ajuda profissional, pois é muita informação para elaborar).


E é tanta coisa a ser resolvida.... A dor de não ter tido uma infância mais saudável, com adultos mais funcionais ao seu redor. A impotência diante do que não podia ser mudado por você. O luto pelo que você não pôde viver. A dor da rejeição e do desamparo.


São sentimentos muito válidos, e que precisam ser reconhecidos. Afinal, sentimentos ignorados se transformam em sintomas.


Mas esse texto é sobre algo além disso.


Algo que é tão difícil quanto às outras partes do processo.


É sobre a necessidade de aceitação.


Afinal, podemos refletir sobre o que ficou: sobre o rancor, a mágoa, o desejo de responsabilizar o outro... sobre como ficamos em toda essa dinâmica. É importante, senão essencial, entender os fatores que influenciaram nosso funcionamento de hoje, e falar sobre eles.


Mas também é importante lembrar que se ficarmos presos apenas nisso, dificilmente teremos mudanças. Dificilmente sairemos do lugar. Viveremos nossa vida em torno daquela questão. Com a responsabilização constante, sem ação.


Pode ser algo beeeem difícil de colocar em prática (a aceitação), mas é um divisor de águas: aceitar que o que realmente importa não é a outra pessoa ou o que ela te fez; mas você e o que você faz com o que foi feito de você.


Se colocar em primeiro lugar.


É sobre a aceitação de reconhecer que não temos o poder de mudar quem nossos cuidadores são ou foram. Que o único poder que temos (e que pode levar um tempo para assumir esse lugar de força, de autoridade sobre nossas vidas), é de assumir a responsabilidade sobre quem somos hoje.


Afinal, no final das contas, você merece viver uma vida mais harmoniosa, em paz. E isso dificilmente vai acontecer caso reviva o passado constantemente (quase como se não quisesse deixar aquilo ir embora? aquilo gera algum tipo de conforto?).


Não estou dizendo que reviver não seja necessário.


Afinal, se está revivendo, existem questões não elaboradas. Não refletidas. Não assimiladas. Mas considere isso, enquanto precisar estar nesse ciclo: o que você está ganhando isso? E o que você está perdendo?


Não é justo com o seu eu-criança, que desejava um futuro melhor, que você se apegue ao que não pode ser mudado. Além disso, o seu eu-atual merece viver uma vida mais leve, mais feliz. Merece realizar os sonhos que você tem, e os que ainda terá.


Claro que não é algo fácil de assimilar, e aquela "vozinha" que fica na cabeça pode ficar te perturbando de tempos em tempos.


Daqui a vinte anos, por mais que as questões tenham sido trabalhadas, talvez elas ainda estejam lá, e é preciso respirar fundo para colocá-las em seu devido lugar. Um lugar que seja mais condizente com o tipo de vida que você gostaria de levar.



Algumas dicas que podem ajudar:


— Celebre suas conquistas: acordar, se dar a oportunidade de um novo dia, ir para o trabalho, estudar algo que você gosta, manter ou inicia um hobbie, se alimentar bem, ajudar outra pessoa.


— Escreva seu fluxo de pensamentos, registre o que sentiu, a intensidade que sentiu, o que engatilhou. O que aliviou.


— Feche a semana se atentando aos detalhes dos momentos em que se sentiu melhor. O que te fez bem? O que te fez mal? Por que te fez mal? Se aproxime das coisas que trazem calma, satisfação, paz, e felicidade.


— Quando sentir que está perdendo o controle, respire fundo. Sinta o ar entrando. Segure o ar para dentro. Sinta o ar saindo. Faça isso por alguns minutos.


— Faça exercício de mindfulness — puxe sua atenção ao seu momento; ao formato das coisas ao seu redor, o cheiro que está no ar, a forma como você está sentindo cada parte do seu corpo.


— Tenha em mente que o lugar que você está hoje é parte do momento, parte do seu caminho para outro lugar.


— As coisas podem mudar e é você quem ajuda a moldar a forma: sugiro que experimente coisas novas, saia com pessoas diferentes, para lugares que não costuma frequentar, se permita acertar, errar, experimentar. Se permita, de verdade.


— Identifique seus potenciais e fragilidades: e as abrace, trabalhe com elas.


— Busque ajuda: Seja com alguém que você confie, um amigo, familiar, ou ajuda profissional! Você não precisa passar por isso sozinha. Todo mundo pode e deve ter apoio.






Comments


bottom of page